O corpo, dotado de uma inteligência subtil ligada à vibração elevada da alma, permite-nos ser transportados para a sensação de pertença dentro de nós mesmos.
É importante, para nos ligarmos ao corpo, a união entre o sentir e o conhecer. Na era da informação, é sem dúvida relevante selecionarmos bem as nossas fontes, tal como é importante que os profissionais de saúde (convencional e complementar) tragam cada vez mais informação ao público, mesmo durante os próprios procedimentos. Conhecermos e sabermos o que é aplicado ao nosso corpo ou o que tomamos é importante quer para essa ligação, quer para uma verdadeira responsabilização pela nossa própria saúde e pelo próprio corpo. O conhecimento e o concreto não têm de ser bloqueadores de sensibilidade. Podem ser usados como a base de dados que a nossa alma pode tratar, como o chão que sustenta o que sentimos.
Torna-se igualmente fundamental escutar o que sentimos. Escutar a voz da nossa sabedoria interior. Escutar o corpo como um todo e na justa medida (pois ouvir “demais” todos os sinais do corpo também é um sinal de desconexão) é a base da promoção da saúde. Quanto melhor o conhecemos e quanto mais o sentimos, mais fácil é escolher as ferramentas que queremos usar para dar respostas ao corpo, trazendo-nos bem-estar e vitalidade. Trazendo-nos saúde na sua vasta aceção, que é muito mais do que a ausência de doença.
A questão muitas vezes é: e como é que isso se faz?
Para começar, é importante perceberemos que é um caminho, e que o importante é desfrutar desse caminho. Se queremos demasiado ter uma ligação extraordinária ao nosso corpo ou resolver todos os bloqueios estamos, à partida, a bloquear o processo. Passa sem dúvida pela paciência, pela gentileza para connosco próprios.
O primeiro passo é gostarmos do nosso corpo. Lembrar a extraordinária capacidade de funcionamento do corpo, o porto-de-abrigo, um portal de sabedoria e de memórias, muitas delas de boas sensações, como o embalo, o aconchego, o prazer, o riso.
Clarissa Pinkola Estés diz “O corpo é um ser multilingue. Fala através da cor, da temperatura, do rubor do reconhecimento, da chama do amor, das cinzas da dor, do ardor da excitação, da frieza da não-convicção. Fala através do seu constante e ténue bailado, por vezes oscilante, outras vezes, nervoso, outras ainda, trémulo. Fala através das palpitações do coração, do desânimo, do vazio da alma, da esperança que renasce.” (In Mulheres que correm com os lobos).
A meditação é também fundamental neste processo de conexão com o corpo.
Meditar não é não pensar em nada. Estamos em meditação cada vez que o foco está no momento presente e nas sensações desse momento, sem necessidade de análise ou crítica ou auto-correção. Estamos em meditação quando o tempo deixa de ter medida. Quando parece que passaram 5 min e afinal passaram duas horas! Cada vez que fazemos algo que nos leva para essa dimensão onde o tempo não tem medida estamos a meditar. Meditar implica sempre uma boa dose de imaginação. E a imaginação, como diz Thomas Moore “é o alimento da alma”.
A criatividade tem um papel fundamental no acesso à voz da nossa alma, à ligação ao corpo nas suas múltiplas dimensões e é uma via para a meditação.
Todos temos acesso à criatividade de todas as formas, não é preciso “ter jeito” para o fazer. Mais uma vez, a chave é a entrega no processo, o próprio processo, e não o foco no resultado. Quanto mais desenvolvemos essa entrega mais caminhamos para um estado de fluidez onde até aquilo para o qual achávamos que não tínhamos jeito se concretiza numa beleza carregada de alma. E quando é dotado de alma, comunica com a alma de quem vê, sente, escuta. É uma comunicação num plano superior que acontece quando deixamos de querer que ela aconteça.
Que atividades nos fazem vibrar, suspirar, não pensar em mais nada, manter a total presença naquele momento, perdendo a noção do tempo? Pintar, escrever, dançar, moldar, fazer música, ouvir música, cozinhar, cantar? Contar histórias? Quais são os meus dons? O corpo lembra-se. O corpo sabe o que lhe comunica com o coração.
A manifestação da criatividade dá-se através do corpo. A vida é uma manifestação da criatividade. Nós somos vida. Independentemente de termos uma profissão mais artística ou mais lógica, sejamos bailarinos ou contabilistas, a energia criativa é a que move a vida.
Possamos dar-nos um tempo para a manifestação da nossa criatividade. Para criarmos o que for que nos faz desligar do tempo como o medimos. Cada vez que entramos nesse tempo sem medida, damos ao nosso corpo oportunidades de regeneração, de equilíbrio e de alinhamento.
Quanto mais nos ligamos ao corpo, mais acedemos a esse potencial criativo e à permissão para o manifestar. O corpo é um portal de criatividade através do qual acedemos ao mais elevado e belo de nós, trazendo-nos leveza e bem-estar e contribuindo para manter todos os nossos sistemas saudáveis. Lembrando que sim, criatividade e saúde também estão ligadas.
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Lindo ✨